TOGA – REINVENTANDO O MESMO NEGÓCIO

Representávamos na época, uma outra empresa que produzia embalagens flexíveis. Era o nome técnico das embalagens com mais de um tipo de componente, como por exemplo: papel celofane + polietileno + alumínio + polietileno. Tudo isso laminado, resultava em uma embalagem, que, alem de propiciar um maior prazo de validade ao produto, agregava modernidade e beleza ao mesmo. As impressões eram fantásticas. Como são nos dias de hoje.

 

Imagino que estávamos no ano 1973. Eu, com 25 anos.

 

Fomos procurados por Rubén Eduardo Ferro, argentino, gerente de vendas da TOGA, indicado que fôra, por alguém de suas relações. Na ocasião, nos ofereceu a representação para os Estados da Bahia e Sergipe.

 

A TOGA era conhecida como a maior e melhor indústria de embalagens flexíveis e semi-rígidas da América do Sul. Sua antiga fábrica, ainda em funcionamento, ficava na Av. Tiradentes, em São Paulo, enquanto a nova, na Via Dutra, estava na fase final de construção. E com ela viria, um grande aumento na produção e diversificação da sua linha de produtos.

 

A R. Passos, já representara antes uma primeira empresa do ramo, e por algum motivo que não recordo, rescindiu seu contrato, firmando um novo, com aquela com quem estávamos trabalhando nesta ocasião.

 

Este motivo, fez com que meu pai relutasse em concordar comigo, ser aquela, uma bela oportunidade de agregar valor à nossa empresa, oferecendo o que de melhor havia aos nossos clientes.

 

No fundo, todas as empresas do ramo, tinham dificuldades em vender no nosso estado, em razão das quantidades mínimas que necessitavam vender de cada tipo de embalagem, para que o negócio fosse viável. Eram raras as empresas que possuíam porte, para comprar grandes quantidades.

 

Este era um dos problemas. O segundo, era que, as tais embalagens, careciam de máquinas automáticas, para que se pudessem utilizá-las.

 

E o último dos grandes problemas, era que, na época, existia um organismo federal, denominado CIP (Conselho Interministerial de Preços), que autorizava ou não, aumentos de preços de todos os produtos, o que fazia com que todos os concorrentes vendessem produtos iguais, por preços iguais. Absolutamente iguais.

 

Ou seja: tanto fazia comprar na indústria a, b ou c.

O papel do representante era demonstrar o diferencial de qualidade, segurança quanto ao cumprimento de prazos, e, sobretudo, ter e manter um excelente relacionamento com seus clientes.

 

Era quase uma aposta no escuro, ou trocar seis por meia dúzia, mas meu pai concordou com que eu fosse a São Paulo conversar com o tal gerente, e resolver a questão.

 

Fiquei muito impressionado com a visita que fiz à velha fábrica, os produtos que lá conheci, o nível dos seus profissionais, e em especial, com o Diretor Comercial, João Marcelo Brasil. Dez minutos de conversa e fiquei seu fã.

 

Lá, ouvi a seguinte história:

 

Há muitos anos, o recém-falecido proprietário da TOGA, senhor José Tscherkassky, possuía uma gráfica na Rússia, seu país de origem, a qual, lhe foi confiscada por ocasião da revolução comunista. Mudou-se de país, se não me falha a memória, para a Hungria, onde montou uma outra empresa, que teve o mesmo fim, e pelos mesmos motivos.

Então ele embarcou em um navio com destino ao Brasil com as poucas economias que conseguira acumular, juventude, e desejo de empreender novamente. Aqui chegando, começou tudo de novo. E, em alguns anos conseguiu fazer com que, sua Indústria de Papéis de Arte José Tscherkassky - TOGA, se transformasse em uma empresa modelo, fabricantes das melhores embalagens flexíveis e semi-rígidas do país. A necessidade de ampliá-la, somada às pressões de seus filhos e colaboradores, não foram bastante para convencê-lo a fazer a tão desejada e necessária, ampliação. Era o receio de perdê-la novamente.

Diziam - de forma irônica - que, enquanto os amigos e familiares, dirigiam-se ao cemitério para o seu sepultamento e últimas homenagens, paredes da fábrica eram derrubadas para ampliação.

 

Voltei para Salvador decidido, e demos o aviso prévio, previsto em contrato, ao então fabricante que representávamos. Vencido este prazo, assumimos a representação da TOGA.

 

Naquela ocasião, eu já tinha trabalho bastante, além das obrigatórias viagens ao interior do estado, para vender os nossos produtos, cuja linha já estava bastante diversificada. Vendíamos sacos de papel e plástico, fechos de alumínio para sacos plásticos, papel celofane, garrafas e frascos, produtos Melitta, e começava a vender equipamentos para instalação de novos supermercados que surgiam a toda hora e lugar. Era o início da era do auto-serviço.

 

Mas, como sempre foi do meu perfil, gostava muito de novos desafios.

 

Relacionei como clientes-alvo, as seguintes empresas: Café América, em Salvador, Café Baía, em Vitória da Conquista, e Cafés Finos, em Ilhéus; Biscoitos Águia Central e Tupy, em Salvador; Coco Serigy, em Aracajú. E ponto! Era o que eu enxergava como mercado para conquistar. Os maiores usuários daquele tipo de embalagem, na minha área de representação.

 

Nenhuma dessas empresas, eram por nós atendidas, com a representada anterior. Na verdade, meu pai, que era o responsável por ela, focava, em razão do limite imposto pelas quantidades mínimas, nas fábricas de charutos e na Chadler, uma grande produtora de derivados de cacau destinados ao mercado exterior, e que produzia também, em uma pequena chocolateria dentro das mesmas instalações, excelentes chocolates.

 

Um pequeno, porém, importante detalhe, era que, acabara de se instalar na cidade de Feira de Santana, uma fábrica das Perfumarias Phebo, que viria a ser o maior cliente da Toga na Bahia, porém, como suas compras eram centralizadas no escritório de São Paulo, ficara fora do meu contrato.

 

A exceção da Serigy em Aracajú, todos os outros já eram meus clientes de outras embalagens, e comecei a visita-los imediatamente, e com muito pouco tempo conclui que, ali estava um enorme desafio, se é que eu quisesse ganhar o mercado; e dinheiro.

 

Os fabricantes de biscoitos, os embalavam em sacos plásticos. Os de café, em saquinhos de papel com folhas duplas. Os designs das embalagens eram antigos, e os equipamentos destinados a embalar seus produtos, ultrapassados.

 

O fabricante de coco ralado de Sergipe, a Serigy, era o que tinha um bom volume de compras, mas já comprava a tempos de outro fabricante, e, como os preços eram iguais, não tinha por que, passar a comprar comigo. Além do mais, não os conhecia. Na oportunidade, conheci o gerente comercial, Bartolomeu, e o dono da empresa, Constâncio. Nada vendi, mas, acho que caí nas graças deles, e passei nesta primeira visita, quase que a tarde inteira com eles. Conheci tudo: escritório, fábrica, matérias primas e produtos acabados.

 

Na volta desta primeira visita, telefonei para o Rubén Ferro, tentando conseguir, pelo menos um desconto financeiro, que seria dado no pagamento das duplicatas, para assim conseguir vender o primeiro pedido ao cliente,

 

Ele foi, curto e grosso:

 

- Baiano, para vender mais barato que o concorrente, não preciso de representante!

 

O que fazer? Conversei com meu pai, e disse que procuraria representações de máquinas para automatização das embalagens, e que permitissem a utilização dos nossos filmes. Ele concordou, pedimos orientação à própria TOGA e consegui três fabricante para representar: Otto Haensel (alemã), Nigro (italiana) e Maynard (argentina). Cada uma delas, especializada em um tipo de equipamento.

 

A segunda iniciativa, da qual o meu pai não gostou, foi me aliar a um excelente designer local, o falecido Willefort Leão, de quem fiquei amigo, e com quem formei uma dupla que chamávamos de IDEA.

 

Eu o apresentei aos clientes na tentativa de convencê-los, não só a adquirir equipamentos, como também a mudar, radicalmente o layout das suas embalagens.

 

Tarefas duplamente complicadas. O Willefort era uma figura. Numa época em que todos se tratavam como senhor e senhora, ele usava você. Fosse cliente ou não; jovem ou não.

Com meu pai, foi o primeiro motivo de descontentamento. Chama-lo de você? Absurdo.

Além disso, não tinha papas na língua, nem pensava antes de falar. Por exemplo: um dos clientes perguntou o que ele achava das embalagens que usava, ele respondeu na hora: horríveis! O detalhe é que fora criada pelo próprio cliente que fez a pergunta.

 

Um outra vez, em Ilhéus, ele falou que achava um absurdo uma marca de café de nome Polar e outra Pinguim! E ambas com desenhos que remetiam ao polo sul!

 

Ou seja, tive que tentar “civilizar” meu parceiro, para não acabar sem clientes. Ainda assim, ele foi fantástico. Criou novas layouts para a Águia Central, Tupy, Cafés Finos, e Café Baía, e para o café América, uma nova marca, DIPLOMATA. Mais tarde criamos também para a fábrica de macarrão Brasil, que pertencia aos mesmos donos do café AMÉRICA, uma embalagem para o espaguete DONATTI, nome que “garimpamos” eu e o dono da fábrica, Victor Fernando, da lista telefônica do estado de São Paulo.

 

Durante o tempo decorrido para a concretização dos meus planos, de vender máquinas e criar novos imagens das marcas dos clientes, até que eu conseguir vender ao produtos da TOGA, que era o objetivo final, muito tempo gastei, e com isso, dinheiro também. Meu pai já andava impaciente. Dizia: - se esse negócio que você está fazendo não começar logo, não vamos continuar perdendo tempo! Eu argumentava o que podia, mas vivia muito preocupado com isso. Quando tudo estaria ok?

 

Então, aconteceu um desastre, que acabou “salvando a pátria”!

 

Depois de tanto insistir, e fazer várias viagens de carro para Aracajú (saia cedo de casa, viajava a manhã inteira, visitava a Serigy na parte da tarde, as vezes jantava com o Bartolomeu ou com o Constâncio), consegui finalmente vender um primeiro pedido: duas toneladas de filmes de celo+poli+celo, para embalagem de 2kg de coco ralado.

 

Mandei as amostras, e em poucos dias, recebi o que era chamado de arte-final, para a aprovação do cliente, e passado mais algumas semanas, a chamadas prova de cores, que era praticamente a embalagem final, também para aprovação. Tudo perfeito, o cliente aprovou, voltei para Salvador e devolvi devidamente aprovada para a TOGA.

 

Um belo dia, chegando ao escritório, recebi da minha secretaria um recado que era para ligar com urgência para o sr. Bartolomeu! Gelei! Liguei!

 

- Amigo, disse ele. As embalagens chegaram com as marcas da fotocélula errada, e, para usa-las, eu tenho que passar a trabalhar de forma manual, o que vai me custar tempo e dinheiro. Ou você me consegue uma substancial redução no preço que me cobrou, ou vou ter que devolver para a TOGA.

 

Sabe aquela do “cliente tem sempre razão”?  Não tinha não! Na pior das hipóteses, ambos erraram. Ele, por ter recebido duas vezes as provas e não teve o cuidado de medir as distancias de uma marca para outra. E eu, por não o ter alertado. No carimbo onde o cliente deveria assinar, tinha todas as recomendações: confiram!!!!

 

Para quem não sabe, marca de fotocélula era a impressão de um quadradinho, situado em determinado ponto da embalagem, o qual era “lido” pela máquina de empacotar, para ordenar o corte naquele ponto.

 

Imagine, mais de um ano de trabalho, para um vexame desse!

 

A essa altura, a TOGA já funcionava na nova fábrica da Via Dutra, e o Rubén Ferro já não trabalhava na empresa.

 

Liguei direto para Marcelo Brasil, assustadíssimo, com o tamanho do prejuízo, e ele, muito calmo, falou:

 

- Eu já estava para lhe fazer uma visita, preciso ir à Phebo em Feira de Santana, então irei a Salvador no dia tal, e de lá vamos a Aracajú resolver este assunto.

 

Meu pai não estava nada feliz. Além de não dar dinheiro, este negócio estava cheirando a prejuízo. E eu, me sentindo culpado e precisando encontrar uma saída.

 

Pois bem, o Marcelo, como fiquei sabendo, começou sua carreira, como vendedor do escritório da TOGA no Rio de Janeiro. Era excelente. Quis o destino (ficou bonito isso hein!), que ele namorasse e se casasse com a filha do sr. Mário Haberfeld, genro e sucessor do velho José Tscherkassky. De vendedor passou a gerente da filial e de lá a Diretor Comercial da TOGA. Era um cara fantástico. Diziam que trabalhava pouco. Chegava na fábrica não antes das 10 horas, invariavelmente, convidava algum cliente para almoçar no restaurante VIP da própria TOGA, e por volta das 15 horas saia para visitar algum cliente, resolver assuntos particulares, ou mesmo ir para casa. Acontece que, apesar de tanta “folga”, estava sempre vendendo toda a produção da fábrica em constante ampliação. Então, ele que fizesse com seu tempo, o que bem entendesse.

 

Fui buscá-lo no aeroporto, e no caminho contei toda a minha via-crúcis para viabilizar a TOGA na Bahia e Sergipe. Contei das máquinas, do Willefort, do diabo a quatro. Ele riu bastante, demonstrando se sentir bem à vontade comigo.

 

Fomos ao escritório, conversamos um pouco com meu pai, ele com uma conversa sempre muito leve e agradável. Enfim, saímos de lá, em paz. Deixei-o no hotel e combinei apanhá-lo no dia seguinte, cedo, para irmos a Feira de Santana. Eu nunca tinha entrado na PHEBO, e fiquei encantado com a produção dos sabonetes “VALE QUANTO PESA” e a linha de perfumes. A marca PHEBO, somente era produzida no Pará.

 

A TOGA vendia um volume muito grande de vários tipos de rótulos, internos e externos à Phebo. Como todo o processo, o de embalagens também gera perdas, e estas tem que ser quantificadas, toleradas dentro de um percentual previamente acertado, indenizadas, se fosse ultrapassado, ou corrigidos se detectadas irregularidades no produto.

 

Não esqueço, quando, o diretor da Phebo, durante o almoço, perguntou ao Marcelo se ele preferia o produto dele, ou o do concorrente, e ele respondeu sem vacilar, que o do concorrente. E explicou o motivo. A cremosidade. O cliente reconheceu que ele tinha razão e que um novo produto poderia ser lançado para resolver esta diferença. E mais: o produto do concorrente era razoavelmente mais caro.

 

Voltamos a Salvador, e no dia seguinte, em um pequeno avião fretado por Marcelo, voamos para Aracajú. Ele não queria ir de carro, não havia voos todos os dias para Aracajú, e assim ele resolveu da forma mais prática, embora mais custosa. Eu pensei comigo: esta embalagem da Serigy cada vez fica mais cara!

 

Tivemos a reunião na Serigy, almoçamos com os diretores, os quais elogiaram o meu trabalho, tendo Constâncio dito que “Rubem era o vendedor mais insistente e jeitoso que ele conheceu. E só por isso nós compramos. Nos visitou mensalmente, durante um ano, sem conseguir vender. Até que tive que jogar a toalha. Brincou”.

 

O Marcelo concordou com o desconto pedido, e o assunto foi resolvido, inclusive, com um novo pedido.

 

Voltamos a Salvador, e do aeroporto mesmo, ele embarcaria de volta para São Paulo.

 

O presente ele deixou para o final:

 

- Pelo trabalho que você está realizando, e que eu testemunhei, passarei a lhe pagar comissão sobre tudo que faturamos para a Phebo. Você só terá que ir a Feira de Santana, uma vez por mês e fazer um relatório sobre perdas de embalagens na produção. Dessa forma acho que você acalmará seu pai, ganhará algum dinheiro, e terá o tempo necessário para completar a introdução nos demais cliente. Mas, quero o seguinte compromisso seu: quando o montante das comissões mensais que você receber referente a vendas feitas fora da Phebo, for igual ou superior ao que vou te pagar pelos negócios com a Phebo, vou lhe tirar este incentivo. OK?

 

Vocês não podem imaginar o que era isto. Era um bom dinheiro, mesmo. Meu pai ficou muito satisfeito, e eu continuei na guerra para fechar os outros negócios.

 

Somente para fechar este assunto, dois anos depois, procurei o Marcelo e disse:

 

- Pode tirar a comissão da Phebo. Já atingi o combinado!

 

Ele ficou feliz, sorriu e me abraçou!

 

Muito bem. A história continua!

 

Convencer alguns clientes a atualizarem a forma com que embalavam seus produtos, de saquinhos plásticos, para filmes laminados, não foi difícil. Afinal, eles desejavam este upgrade! Alguns, apenas, não sabiam como fazer. Um pouco mais complicado, foi convencê-los a mudar a imagem que seus produtos traziam há décadas. E com meu parceiro Willefort, de vez em quando dando umas engrossadas, então! Mas conseguimos.

 

A ÁGUIA CENTRAL, substituiu sua águia, por sorridentes crianças. A TUPY, o seu tradicional índio, por um trevo de quatro folhas e um biscoito mordido. Ambas passaram a comprar filmes para os sabores: Cream-Crackers, Maria, Maizena, Leite, Água e Água e Sal.

 

A Cafés Finos de Ilhéus, manteve suas marcas POLAR, PINGUIM e SABOR, mas passou a me comprar filmes laminados para embalá-los, em substituição aos antigos saquinhos de papel.

 

O Café AMÉRICA, se manteve durante mais algum tempo, fiel às embalagens tradicionais, mas me comprou uma máquina Nigro (italiana), lançou uma nova marca, DIPLOMATA, e também uma nova marca de espaguete, também produzida por outra empresa do mesmo grupo, a Fábrica de Macarrão Brasil, a DONATTI.

 

Aproveito para registrar um fato engraçado que aconteceu naqueles dias. Eu ia sempre ao Mercado Modelo, em Salvador, aos sábados, após o expediente do escritório, que eu era obrigado a cumprir, por determinação do meu chefe (e pai). Lá encontrava amigos, tomava umas batidas de limão, e, invariavelmente, comíamos uma moqueca de arraia.

 

Num daqueles sábados, encontrei um então jovem compositor, conhecido no mercado como “chocolate do mercado modelo”, mais tarde, “chocolate da Bahia”.

 

Falei

 

- Chocolate, se você quiser ganhar uma graninha, crie um jingle para ser usado nas propagandas dos biscoitos da Águia Central. São meus clientes, e sei que se ficar boa, eles compram e pagam bem. E deixei com ele, meu cartão de visitas.

 

Relembro aqui, que meu pai, se era muito rigoroso com ele mesmo, comigo então, nem se fala. Uma vez, eu o ouvi dizer a minha mãe, que não me dava um dedo, porque senão eu ia querer o braço inteiro! 😊

 

Voltando ao assunto: em um dia de trabalho normal, especialmente para meu pai que discutia assuntos ligado à números com o contador e sua secretária, os demais funcionários falando baixinho, eu de cabeça baixa datilografando uma carta, eis que a porta da nossa sala se abre, e, de repente, ouve-se um batucar forte e, nosso amigo, Chocolate, começou a cantar e, em voz alta:

 

Quem descobriu o Brasil

Foi Pedro Alvares Cabral

Os preferidos das crianças

São os biscoitos Águia Central (bis)!

 

O “os preferidos das crianças”, fui eu quem criei agora, pois esqueci como era o verso original!

 

E aí, falando alto ainda:

 

- E aí, colega, gostou!!! E cantou novamente!!!

 

Em um segundo, meu pai estava do meu lado:

 

- O senhor pode me explicar o que é isto?

 

Eu pedi um momento, peguei Chocolate, saí da sala, combinei leva-lo ao cliente no dia seguinte, e me despedi, voltando à nossa sala.

 

Expliquei ao meu pai a minha ideia, me desculpei pelo “intervalo musical” que eu acabara de oferecer, e ouvi dele:

 

- É, não sei não! Acho que quando eu morrer, isso aqui vai virar sei lá o quê!!!

 

Todos riram, inclusive ele, e continuamos o trabalho.

 

Dia seguinte, o mesmo show de Chocolate no escritório do cliente, que aprovou e pagou o jingle, tocado durante muito tempo nas rádios de Salvador.

 

Continuando:

 

Para o café BAÍA, de Vitória da Conquista, Willefort criou uma embalagem, que, na época, num concurso interno realizado na TOGA, ganhou em primeiro lugar. Ele usou fundo branco, e o resto da impressão, apenas uma cor: café. Ficou lindo. Vendi máquina e saquinhos laminados também.

 

Como sempre, Papai do Céu me ajudava, e assim, duas cervejarias em breve espaço de tempo, se instalaram na Bahia: a Ciquine (que produzia as marcas CHOPP 70, e POP CHOPP, e a Cibeb, com a marca, famosa no mundo inteiro, a CARLSBERG e CARLSBERG OURO; e eu passei a vender-lhes rótulo e as embalagens semi-rígidas, denominadas “six-pack”.

 

Na época, um grupo alemão montou, no Centro Industrial de Aratu, a Bahia Frutos S/A., uma indústria de sucos, cuja marca era “Xodó da Bahia”, e tornou-se também, excelente cliente, de rótulos para garrafas e six-packs.

 

A TOGA foi a empresa mais sofisticada, que tenho lembrança, de ter trabalhado.

 

Tudo nela era, muito bom! Nos mínimos detalhes. Sempre que podia, ou ia a São Paulo, ainda que não tivesse necessidade, fazia questão de visita-la, e, na maioria das vezes, era convidado do Marcelo Brasil para almoçar, e o gerentes de vendas a quem eu me reportava, sempre me gozavam, dizendo que eu era protegido do chefe.

 

A TOGA tinha o restaurante dos funcionários, da melhor qualidade, mas também tinha outro, privativo de seus diretores e convidados, que não ficava a dever nada, para famosos e sofisticados restaurantes de São Paulo. Eram, se não me falha a memória, umas 4 ou 5 mesas redondas, uma sala de espera, que quando o convidado chegava, recebia um pacote caixinhas de fósforos, de cartão, personalizadas com seu nome. Recebia um cardápio de bebidas, entradas, pratos principais e sobremesas, escolhia o que ia consumir, e se sentava à mesa, para ser servidos. Garçons vestidos a caráter, em música ambiente bem baixa. Eu gostava muito dali.

 

Vou contar um fato que ocorreu, e me perdoem não citar o nome do cidadão, por ter falecido ainda bem jovem.

 

Era o gerente de vendas de uma das divisões da empresa, a quem eu, também, me reportava.

 

Um dia, acabando de resolver meus assuntos com ele, ele me convida para jantar na sua casa. Fiquei feliz. Uma deferência. Era, jovem, filho de suíços, formado e pós-graduado em administração se não me engano, sempre me tratou bem, mas, gostava de umas brincadeiras tipo gozações com funcionário subalternos e representantes. Normal. Aceitei, e quando ia saindo, ele me disse:

 

- Bem próximo da minha casa, tem uma loja do Pão de Açúcar. Compre e leve para mim, uma garrafa de conhaque (era francês), não recordo a marca.  Nos vemos a noite. Até lá!

 

Eu fiquei sem graça. Não sabia se era para ele me pagar, ou o que era. Brincadeira, era que não era. Ele falou sério.

 

Como eu ia explicar a meu pai, nas despesas de viagens, que ele conferia rigorosamente, a compra de uma garrafa de conhaque.

 

Mas, “quem entra na chuva, é para se molhar”!

 

E assim fiz, comprei a garrafa, fui à sua casa, lá fui apresentado à sua mãe, que era a dona da casa, e assim soube que ele era solteiro.  Jantamos, voltei para o hotel e no dia seguinte para Salvador. Nem preciso dizer como meu pai ficou aborrecido com o ocorrido. Com o gerente e comigo.

 

Alguns meses depois, em visita à TOGA, fui convidado almoçar no restaurante VIP, pelo mesmo gerente. Acho que ele estava com algum cliente, e assim, tinha acesso ao tal restaurante. E me levou junto.

 

Na mesa ao lado, estava o presidente da empresa, Sérgio Harbelfed, filho do Sr. Mário, que já tinha falecido também, o Marcelo Brasil, e outras pessoas. Findo o almoço, Marcelo olha pra mim e fala:  - Baiano, senta aqui conosco, vamos tomar um café.

 

Sentei na mesa, cumprimentei a todos, fui elogiado pelo presidente, com quem nunca tinha conversado, mas sabia do meu trabalho, e as conversas eram amenas, Contavam histórias de um e de outro, até que contaram um do tal gerente, que me trouxe a lembrança o que ele havia feito comigo. Não resisti, e contei.

 

O presidente, chamou o tal na mesa, e falou: - Você fez isso com ele mesmo?

 

E o cara ficou para morrer: vermelho, suando, sem graça.

 

- É, foi, mas, foi uma brincadeira ...alguma coisa assim.

 

O Sérgio então fala:

- Sabe aquela caneta que você me pediu para trazer da viagem que fiz à Tchecoslováquia?

 

E o rapaz, calado, sorrindo sem graça!

 

- Vou dar ao Rubem! Será uma forma de você retribuir o presente que ele te deu!

 

Me pegou pelo braço, e disse: - Vamos!

 

E foi assim que eu entrei pela primeira vez na sala da presidência.

 

Ele abriu a porta de uma bela estante, e de lá tirou duas pequenas caixas. Uma com uma caneta linda, de aço escovado, de uma marca parecida, algo com CARAN. E na outra, um isqueiro Cartier, dourado. E falou:

 

- O isqueiro é o presente com um pedido de desculpas, pelo que você passou.

 

Final feliz, passei na sala do gerente, e mostrei-lhe os presentes.

 

Ele não ficou nada feliz? 😏

 

Realmente, a TOGA era sensacional: Uma pérola rara!

 

 

Salvador, 07/08/2020

 

 

 

Rubem Passos Segundo

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