XODÓ DA BAHIA – Quase tudo deu certo

Lá pelo meado dos anos 70, um grupo alemão instalara uma fábrica de sucos de frutas na Bahia e, da mesma forma que no caso da águas minerais, eu perdia sempre as concorrências para a venda de garras one-way, que eles utilizavam, para o fabricante  de Recife, em razão do custo do frete, e algumas vezes do próprio produto também.

 

Um certo dia, recebi um pedido de cotação do cliente, cuja razão social era BAHIA FRUTOS S/A, para fornecimento de uma grande quantidade de garrafas, e, quando o meu diretor me informou qual seria o preço que eu deveria cotar, argumentando que, ainda assim lhe causaria prejuízo que seria compensado apenas, pelo fato de cobrir parte dos custos fixo, com a utilização das suas máquinas, meio desanimado, preparei a proposta e fui levar ao cliente.

 

Além de desanimado, eu estava também, meio chateado. Pedi tanto, que imaginava um preço melhor.

 

Ao entrar na sala do Diretor de Compras, que era alemão, ele fez um gesto para que eu me sentasse e, ato contínuo, seu telefone tocou. Era a época, ainda, dos telefones fixos. Ainda estava longe a chegada do celular.

 

Ele atendeu a ligação, falou um pouco em alemão, me pediu desculpas e saiu rapidamente da sala para atender alguma emergência.

 

Fiquei sentado em frente a mesa cheia de papéis, quando notei o logotipo do meu concorrente no meio de alguns deles.

 

Confesso - e pelo tempo que o fato ocorreu, meu crime já deve estar prescrito - dei uma olhadinha rápida no conteúdo papel e lá estava, com todas as letras e números o preço e condições de pagamento do meu concorrente, datado daquele mesmo dia.

 

Quase não acredito!

 

Devolvi o papel para o lugar que estava e, no mesmo instante o cliente entrou na sala.

 

-Desculpa Passos! Trouxe a proposta?

 

E eu, com a cara mais limpa que Deus me deu, e, por ter me tornado um vendedor, ELE certamente fechou os olhos, respondi:

 

-Precisei ir bem cedo a Camaçari, e estou voltando para o meu escritório pegar a proposta. Passei aqui só para dar uma satisfação ao senhor. Logo após o almoço eu trago!

 

O preço constante da proposta do meu concorrente era bem mais alto do que, o que eu iria propor. Não sei o porquê, mas, era!

 

Eu não iria vender as nossas garrafas, superiores em qualidade, a preço tão mais baixo que o ofertado pelo concorrente, mesmo computando a diferença no custo do transporte.

 

Chegando ao escritório, refis a proposta, alterando o nosso preço que, de deficitário passou a ser, bem lucrativo!

 

Tudo correu como combinado.

 

Levei a nossa proposta e ganhei o pedido inteiro. Um belíssimo pedido.

 

No caminho de volta, comecei a sonhar:

 

Com a diferença de preço que consegui, a Cisper vai ganhar um bom dinheiro. Nada mais justo que eu pedir uma comissão extra, ou mesmo, um prêmio. Quem sabe até uma viagem para os Estados Unidos (meu sonho naquela época). 🤔

 

Chegando ao escritório, todo feliz, ligo para o o meu diretor e conto que ganhamos o negócio, e como ganhamos:

 

Ele:

 

-Parabéns! Belo trabalho!

 

Eu:

 

-Vou ganhar um extra, chefe, com este negócio? (coração apertado...)

 

Ele:

 

-Quando eu, atendendo aos seus chorados pedidos, baixo os nossos preços, eu reduzo o percentual da sua comissão?

 

Meu pai, que da sua mesa escutava, fazendo de conta que não estava prestando atenção, deixou escapar um pequeno sorriso.

 

Foi mal! Aprendi mais esta! Ele tinha toda a razão!

 

 

Salvador, 13/08/2020

 

 

Rubem Passos Segundo

rubem@rpassos.com.br

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