Rua da Selva, Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, RJ

Nos anos 90,  precisando mudar de endereço no Rio de Janeiro, li um anúncio no jornal, de uma casa na Rua da Selva, final do Alto da Boa Vista, fronteira com a Floresta da Tijuca.

Foi a única casa que vi. Fiquei encantado.  A casa tinha piscina, sauna, jardim, enfim, uma delicia.

A rua não tinha saída e no seu final, uma belíssima árvore de Pau Brasil!

A última mudança na rua,  acontecera há 15 anos!

Dia da mudança, um sufoco. Caminhão enorme, carregadores, caixas, um entra e sai danado. Um gentil vizinho da casa em frente, vez por outra, aparecia com uma garrafa de água gelada oferecendo aos carregadores e a nós, seus futuros vizinhos.

Final da tarde, exaustos, me dirijo ao sr. João para agradecer e desejar uma boa noite, quando ele me surpreende , pedindo desculpas por ter esquecido de me oferecer seu telefone para o caso de alguma necessidade! Quanta gentileza, naquele homem.

Dia seguinte, logo cedo ao acordar, chego à janela do quarto que ficava no primeiro andar, e outra surpresa: o vizinho da casa ao lado, um sírio chamado Nelson, estava com uma mangueira molhando as plantas do jardim da minha casa! Não acreditei! Rio de Janeiro, terra do ninguém é de ninguém, uma vizinhança desta!

Segundo dia, a casa menos bagunçada, inicio da noite, resolvi fazer uma provocação.  Armei uma mesinha de bar,  na calçada da minha casa. Botei uma cerveja gelada e alguns copos. Fiquei quieto olhando o movimento. Aliás, o silencio. Ninguém na rua.  Aí aparece o vizinho do lado direito, Dr. Luiz, figura fantástica e aceita meu convite para sentar e beber um copo.  Logo, juntaram-se a nós o Nelson e finalmente o Sr. João.

Para vocês terem uma ideia, quando me mudei soube que nenhum dos vizinhos se frequentava, embora todos fossem solidários em casos de problemas de saúde.

Tomamos nossa cervejinha, estabelecemos contato e iniciamos uma grande e “velha” amizade.

A partir daí, a mesa passou a ser de domínio público e cada dia, era armada na calçada da casa de um dos vizinhos, que foram aumentando de numero. O dono da vez, oferecia a cerveja.

Morei ali pouco mais de um ano, era hora de voltar à Bahia, porém,tempo suficiente para dar uma balançada nos costumes da rua. 

Quando saí, o banho de piscina,  uns nas casas dos outros já era normal. As portas nunca mais se fecharam. Fazíamos almoços e jantares, assistimos a Copa do mundo de 94 na rua, com a televisão em cima do meu carro e um  monte de cadeiras e mesas, tira-gostos e cervejas, a criançada fazendo a maior bagunça.

Quando me despedi, foi o maior chororô. Nós e nossos queridos vizinhos.

Conto essas coisinhas porque, quando tomei conhecimento do “estilo de viver Cidadelle”, pedi a Deus baixinho, que seus moradores sejam tão felizes quanto fui na Rua da Selva.

 

Rubem Passos Segundo

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