TRÊS & UM - Uma tarde com Vinicius
Meu pai (e patrão), jogava duro comigo. De verdade. Hoje já começo a lhe creditar alguma razão. Eu era osso duro de roer, quando criança e adolescente.
E como comecei a trabalhar cedo, ele não perdia a oportunidade
de me “orientar”. Ao seu modo.
De vez em quando, no dia de receber o meu pagamento,
recebia uma duplicata de algum cliente. Eu deveria cobra-la e assim, receberia
o meu e daria o troco.
E assim, numa segunda-feira, recebido o envelope com a
minha surpresa, me mandei para a Moenda – restaurante temático de sucesso,
especialista em culinária baiana, e shows folclóricos - na esperança de encontrar o seu proprietário,
medico oftalmologista, cantor e boêmio,
gente boa mesmo!
Lá chegando,
perguntei a uma das baiana: cadê
Ermano? E ela: lá em cima!
Quando abri a porta da sala, encontrei Vinicius de
Moraes, sem camisa, tocando violão, sentado no chão, Ermano ao lado, na frente
dos dois uma garrafa de vinho Rosé D’Anjou,
algumas baianas-garçonetes cantando .
Meu cliente sinaliza para eu me acomodar, e assim,
esqueci totalmente o que fui fazer e curti uma deliciosa tarde de musica, vinho
e poesia, com o nosso poetinha.
Chegando em casa, meu pai perguntou logo: recebeu? Não ia dar para explicar, então
respondi: o cliente não estava. Vou
voltar amanhã. Anos depois contei a
verdadeira história e meu pai riu! Valeu!
Uma reunião
com Chico Buarque
Recebi em meu escritório a visita de uma grande amiga,
que foi me procurar para que eu opinasse sobre uma estratégia que ela havia
desenvolvido para ajudar algumas creches para órfãos no Rio de Janeiro.
Após ouvi-la, e como se tratava de projeto para
arrecadar recursos junto a empresários amigos do seu marido, então presidente
de uma grande empresa, sugeri que desenvolvesse projetos, que gerassem
recursos, sem que ficassem para sempre “passando o chapéu”.
Ela então me pediu para ajuda-la, e assim, levei
alguns dias preparando sugestões.
Entre elas, sugeri que fosse feita a remontagem da
Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que tinha sido um sucesso quando foi
encenada.
O prestígio do marido fez com que em poucos dias, a agência
de propaganda de um amigo do casal providenciasse uma reunião e prá lá me
dirigi, convocado.
À mesa estavam Chico, seu empresário, Vinicius, Liége
Monteiro, eu, minha amiga e o dono da agência.
Então, o Chico abre a reunião dizendo: esta é a primeira vez que sou convidado por
uma empresa interessada em me patrocinar! Me contem por que!
E eu, com a maior cara de pau disse: Quando a Ópera
foi encenada, eu morava na Bahia, e não assisti. Agora, inseri esta ideia no
projeto da minha amiga, para ver se conseguia!!! Todos riram.
Finda a reunião, tirei da minha pasta um LP da Ópera,
e pedi ao Chico que a autografasse.
Ele escreveu: Ao Rubem, com o desejo de que ele
finalmente possa assistir a Ópera do Malandro. Abraço. Chico Buarque.
Um autografo
de Tim Maia
Era a minha terceira tentativa de assistir um show do
Tim.
A anterior, ele não foi porque o Botafogo havia
perdido. Muito justo!
A fila enorme na porta do Scalla, e a tal da
comunicação.
Na segunda, no Canecão, o cancelamento ocorreu dias
antes.
Finalmente, ele faria um show intimista, num bar
fantástico que havia no Rio, o People.
Sentamos numa ótima mesa, bebemos um bom whisky e assistimos
embevecidos o show do Síndico!
Ao final, com um LP na mão, me dirijo ao Tim e peço um
autógrafo.
Ele, suando em bicas, me pergunta o meu nome e escreve bastante na capa do
disco.
Quando cheguei em casa, não consegui entender nenhuma
palavra da dedicatória. Pedi ajuda a vários amigo, e nada.
Pois é, tenho uma dedicatória autografada de Tim Maia.
SECRETA!
Rubem
Passos Segundo
Salvador, maio 2014
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