Saudades do meu padrinho

Estou assistindo uma serie na TV, que tem tanta gente marron (de marromeno, ou mais ou menos, em baianês).  

Gente ruim mesmo!

Aí, não sei de onde, me lembrei do meu padrinho.

Segue a minha história:

Meu pai, rapaz trabalhador, namorando a filha de um rico comerciante e fazendeiro do interior, precisava se prevenir, na hora de pedir permissão ao meu avô para namorar a minha mãe.

Procurou um cliente importante dele, outro comerciante de prestigio na cidade, e pediu que ele lhe autorizasse a dar o seu nome como fonte de informações para o velho.

Dito e feito:  Meu avô foi conversar com o tal, e as informações foram as melhores possíveis: rapaz sério, respeitador, trabalhador, boa família, dinâmico. Com certeza seria um bom partido.

Aí pronto, o velho namorou, casou, tiveram a primeira filha, minha irmã,  e um ano e meio depois, nasci!

Em retribuição ao favor que o rico cliente lhe fez, convidou-o para ser meu padrinho de batismo.

 

 “… para a Igreja Católica os padrinhos existem para ajudar os pais a conduzirem o batizado no caminho que consideram o melhor, na vida em comunidade, na Igreja, na participação dos outros sacramentos. Antigamente, era muito comum, inclusive, os padrinhos se tornarem responsáveis pelas crianças se os pais morressem, tamanha a responsabilidade dessa atribuição”.

 

Após o batismo, o meu amantíssimo padrinho e quase pai, escafedeu-se! Sumiu!

 

Não tenho nenhuma lembrança do dito cujo, até que, ao completar dezoito anos, eu,  carnavalesco de primeira, cheio de energia, metido a conquistador, doido para conseguir um convite para um baile de um determinado clube de Salvador, conhecido por uma certa liberalidade nos bailes de carnaval, soube, não sei como, que o nome do Presidente do clube era o do Sr. Meu Padrinho! Não acredito! Pensei, já vibrando!!! É agora que eu vou conhecer meu dindo!! E ele não haverá de negar um convitezinho para um afilhado com quem ele nunca gastou um centavo!!!

Falei com meu pai, para garantir que o homem era ele mesmo, e ele concordou que eu podia ir tentar o tal convite, meio a contragosto, claro.

Me arrumei direitinho , e fui até o estabelecimento comercial do padrinho, logo após o almoço. Ele ainda não havia chegado, mas não deveria demorar.

Daqui a pouco o velho chegou, se aprumou na cadeira da sua escrivaninha, e olhou pra mim, perguntando: o que é?

Eu peguei a minha carteira de identidade e entreguei a ele.

Ele olhou, olhou, olhou, olhou pra mim, e disparou: você é meu  afilhado não é?

-Sim Senhor! Emoção pura. Por causa do convite, claro

-E o que você quer? Delicado, né?

-Soube que o senhor é o presidente do clube, e gostaria de lhe pedir, que o senhor me conseguisse uns convites para eu brincar o carnaval.

Ele me olhou, balançou a cabeça,  visivelmente incomodado,  e disse:

-Dessa vez eu não posso lhe negar. Venha buscar os convites tal dia.

-Mas!!!! No ano que vem, veja se você se associa, pois não gosto de dar convite a ninguém.

E eu: Obrigado meu padrinho. Sua benção

FUI!!!!

Gente boa o velho, né?

Nunca mais o vi. Soube da sua passagem para o andar de cima pelos jornais.

E pensei: que Deus o tenha, e não lhe negue convites!!!

 

 

Rubem Passos Segundo

Salvador, 14/08/2015

 

Comentários

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