Don Juan em Avaré
Em 1980, a Melitta, prestes a inaugurar sua fabrica de café, que viria a ser a pioneira na utilização de vácuo na embalagem dos seus produtos, convoca seus representantes (ói nóis aqui, traveis), gerentes e vendedores, para uma visita às novas instalações.
Não
lembro exatamente o mês, mas, fazia muito frio.
Para
São Paulo veio gente de todo o Brasil, e na hora marcada, embarcamos num ônibus
leito, rumo a cidade de Avaré.
Como
um homem prevenido vale por dois, levei uma meia garrafa de whisky que tinha,
na minha sacola. Vai que o frio aperta, né não?
Muito
bem , o ônibus partiu, e até sair dos limites da cidade de São Paulo, a
conversa corria à solta. Um monte de vendedores juntos, tem que ter muito papo.
Demorou
um pouquinho e o papo foi diminuindo, o sono chegando, e, tão logo o ônibus
passou de um pedágio, PÔ!!! Estourou um pneu dianteiro!
O
motorista parou no acostamento, descemos todos para ver o que foi, lógico, mas
o frio nos empurrou de volta ao ônibus.
Com
todo o cuidado para ninguém ver, enfiei a mão na minha sacola, peguei
sorrateiramente a garrafa, e só foi o tempo de dar um golão. Vupt!
Foi arrancada das minhas mãos, e em pouco minutos retornou para o meu segundo e
ultimo gole!!! Ainda bem que fiquei com o casco para a próxima viagem.
Pneu
trocado, viagem completada, chegamos todos cansados ao Hotel em Avaré.
Café
da manhã marcado para as 08:00h, e saída para a fábrica às 09:00h. A ideia era
visitarmos a fábrica, depois almoço seguido de reunião de vendas, e retorno ao
hotel para jantar, dormir e dia seguinte, retornar à São Paulo.
Detalhe
importante: éramos cerca de 30 pessoas, sendo 27 homens e 3 mulheres.
Um
senhora beirando os 70 anos, outra senhora de uns 45, amiga de todos, e uma
jovem de pouco mais de 20 anos, secretaria do Gerente de Vendas.
Esta
última, claro, alvo de todas as atenções, olhares e desejos dos galãs presentes,
eu à frente, naturalmente.
Cumprida
toda a agenda, nos recolhemos aos nossos apartamentos, todos muito bem
servidos, com frigobar abastecido de água e refrigerantes, ar condicionado, etc.
Após o banho, vesti minha inseparável
pijama, e...cama.
Não
demorou nada, o telefone tocou!
-
Alô
-Guga?
-Sim
-Fulana
-Oi!!!
-O
que você esta fazendo?
-Deitado,
pensando em você!!! (bingo!)
-Porque
você não vem ao meu quarto?
-Posso???
-Venha.
Estou me sentindo muito sozinha. Vou deixar a porta encostada...
-Tô
indo!!!
Aí me'rmão, consciente da infalibilidade e
irresistibilidade da minha simpatia e beleza, nem pensei duas vezes. Dei uma
penteada rápida nos cabelos, e de pijama e sandália de dedo, esgueirei-me pelo
corredor até chegar ao desejado ninho de amor, cuja porta, conforme combinado, estava
encostadinha da silva! Aê era só
correr para o abraço!
Empurrei
a porta devagarzinho e........................ lá estavam, sentados num sofá, a
papear, o Gerente Comercial e o Diretor de Marketing.
-Oi, um deles falou
-Tem
água? (Foi tudo que consegui pronunciar)
-Claro.
Pode pegar! No seu quarto não tem?
-Acabou!
Obrigado, boa noite e, desculpe aí!!!
Rapaz,
nem uma risadinha os FDP's deram!! Nada!
Voltei
para o meu quarto, p... da vida, peguei o telefone para ligar para a cidadã, ainda
na vã esperança que eu tivesse errado o numero do quarto, e nada. Ela tirara o
telefone do gancho e assim, tive que concluir que fui o bobo daquela corte.
Dia seguinte, segurei a dita cuja pelo braço, e
antes de conseguir pronunciar uma única palavra, ela falou:
-Foi
o nosso chefe que mandou!
Ponto
final! a vingança viria mais tarde, mas aí, já é outra história.
Rubem Passos Segundo
Salvador, 21 outubro 2015
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