EU, O FUSCA DO MEU PAI E PAPAI DO CÉU
Não adianta. Volta e meia lembro de alguma pisada de bola do meu passado.
E,
como sempre, o meu pai era (contra sua
vontade), ativo personagem do ocorrido.
Quando
eu falava em dirigir, meu pai, para quem não lembra, jogo duro, dizia: esqueça!
Só quando completar 18 anos, e se merecer!!!
(aí era covardia; merecer era a parte mais difícil, para não dizer, impossível!).
Mas,
Deus existe, e minha mãe resolveu aprender a dirigir!
O
velho havia vendido o seu Chevrolet Bel Air
1956, e com os recursos apurados, comprou dois automóveis (como se dizia à época):
um fusca e uma Kombi. Era importante minha mãe aprender a dirigir pois ela
poderia ajudá-lo nas entregas de alguns produtos que ele comercializava, além
de fazer as compras da casa, etc.
Procurou
se informar quem era um bom instrutor, e o contratou; homem sério e competente.
Combinaram
tantas aulas por semana, coincidentemente
no turno que eu não estava na escola. Eu tinha então uns 14/15 anos, se
tanto. Pedi a minha mãe, que me deixasse assistir as aulas, e assim, lá ia eu
no banco de trás, prestando toda atenção.
Embora
nunca tivesse pego no volante, quando minha mãe completou o curso, eu me senti
pronto também, embora tivesse faltado algumas aulas, a bem da verdade!
O
problema agora seria a minha estreia como motorista, uma vez que a resposta às
minhas súplicas, era sempre a mesma: NÃO!
Eis
que, num belo dia de sábado, teve um almoço barra pesada lá em casa, e meu pai,
depois de uns tantos pratos fundos e varias louras geladas, capotou.
Há
muito o plano já estava concebido, faltando apenas a ocasião apropriada, para sua
realização.
Minha
mãe já estava acabando com a arrumação da cozinha, quando eu, pé-ante-pé,
adentrei no quarto de meus pais, e com a mão tremula, afanei as chaves do carro
no bolso da calça que estava pendurada no cabide.
Mais
um pouco, a minha velha também foi ao encontro de Morfeu, e eu, após verificar
que os demais moradores da rua também estavam recolhidos, entrei no fusca,
liguei o motor, e.......pronto! saí como um canguru, aos pulos!!!! Só lembrava
do instrutor dizendo a minha mãe para tirar o pé da embreagem devagar, mas, a
ansiedade era tanta que esqueci deste detalhe!
E aí
fui em frente. Sai da rua, dobrei a direita e fui para um bairro próximo, com
direto a descida e subida de ladeira. Na
hora que cheguei no plano, e olhei para o final da rua, gelei. Era fim de linha
de ônibus, e tinha mais coletivos que eu suportaria enfrentar.
Então,
resolvi retornar do meio da rua mesmo. Virei volante para a esquerda, fiz a
meia lua, e depois, engatei a ré! De novo o pé saiu mais rápido do que devia da
embreagem, e atingi em cheio o muro de uma casa que desabou na hora!
PQP!
Me ....! Me .....MESMO!!!!
Primeira
marcha e voei para casa. Parei o carro no mesmo lugar que estava, pois para
minha sorte, nenhum filho de Deus havia ocupado a vaga, fato este que me
escapou no planejamento inicial. Peguei uma flanela que tinha no porta-luvas,
limpei as digitais (hahá!!!) , e o
local da colisão mural!
Fui
experimentar abrir a tampa do motor, que no fusca fica na traseira, e
nada. A porrada empurrou o para-choques
para a frente e a tampa não abria.
Gelei,
mas, como nada mais podia fazer, devagarinho abri a porta do quarto dos meus
amados pais que dormiam profundamente (meu
pai roncava tanto que eu ouvi da porta da entrada), e repus o chaveiro no
bolso da calça.
Daí
era rezar e pedir a Deus um milagre (o garantido
seria uma surra!).
No
dia seguinte, como todos os domingos, íamos todos à missa, na Igreja de Santo
Antônio Além do Carmo! Eu e minhas irmãs no banco de trás, meu pai ao volante e
minha mãe no carona.
No
caminho da igreja, meu pai sempre parava o carro na banca que tinha na
Quitandinha do Capim, e comprava o jornal.
Eis
que, Papai do Céu aproveitou para corrigir o meu mal feito.
Meu
pai passou da banca, e lembrou do jornal. Ato contínuo, engrenou a marcha-a-ré
e.......PÔ! Bateu em um carro que estava chegando atrás, cujo motorista também iria
comprar o jornal. E como parte do milagre, era um vizinho nosso.
Meu
pai saiu do carro, pediu desculpas, e foi dar uma conferida na tampa do motor
que, obviamente, não abriu!!!
Só
tive tempo de olhar para o céu, e disfarçadamente, fazer o sinal de positivo,
com o dedão! Chegando na missa, rezei uns dez Pai Nosso e outras tantas Ave
Maria para saldar meu débito. Obrigado Senhor! Obrigado Minha Mãe do Céu!
Escapei!
Rubem Passos Segundo
05 outubro, 2015
Comentários
Postar um comentário