Vendendo óleo de algodão do Ceará
Naquela
época, não se falava ainda de Soja, e o algodão era uma das alternativas.
Pois
bem: acompanhado da informação, recebi de meu pai a determinação de que eu
deveria estar em Fortaleza, no dia 02/01, às 08:00h., na fábrica, para uma
reunião com o diretor comercial, que me apresentaria o produto e as
instruções para representa-los na Bahia.
Pense
bem! Eu doido por festa, já com réveillon programado, que seria emendado com a
procissão do Senhor dos Navegantes, e finalizado com banho de mar e moqueca de
peixe no Boteco do Tião na Boca do Rio,
já fiquei atordoado!
Mas,
tudo bem. Preparei minha maleta no dia 30, e já deixei no carro pronta para o
que der e vier, inclusive com a passagem e reserva de hotel junto.
E me
piquei para cumprir o exaustivo programa já previamente e exaustivamente
planejado!
O
resultado foi que, ás tantas horas da tarde,
após o dia/noite/dia do primeiro dia do ano, lá eu estava, embarcado, ao
lado de uma senhora cearense, bem nutrida, e com carinha de vó! Completamente
exausto e um tantinho bêbado!
Naquela
época, não existiam voos diretos, e o
meu saindo de Salvador, faria escalas nas cidade de Aracajú, Maceió, Recife e
Natal, antes de finalmente pousar em Fortaleza, lá pela meia noite!
Apaguei
antes do avião decolar de Salvador, claro, e, quando dei por mim, ouvi alguma
coisa como: nosso tempo de voo até Natal
será de aproximadamente........
Sem
saber direito quem eu era, quanto mais onde estava, abri os olhos e me
encontrei confortavelmente instalado nos seios
(colo?) da vozinha ao lado, sorrindo. Não lembro se me espreguicei; nem
se pedi a benção! Lembro de ter me ajeitado e dito: a senhora me desculpe, por
favor!
E
ela:
- Ô meu filho, se eu tivesse que me
aborrecer com você eu já estava desde Salvador. Você ate que não incomodou! Tá
cansado não é? Sabe que tu me lembra meu filho quando tinha sua idade?
E
assim, neste papo pra lá de Marrakesh, chegamos
a Fortaleza, e me despedi - para sempre - da minha vozinha querida!
Dia
seguinte, às 08:00h em ponto, lá estava eu na fábrica e tive que esperar um bom
tempo até o Diretor chegar, atrasado, como todos os brasileiros chegam no dia
02/01, menos um, EU!
Ouvi
as explicações, conheci a fabrica e os
escritórios, peguei as amostras, almocei
e fui para o aeroporto fazer o caminho de volta: Fortaleza/Natal/Recife,
Maceió, Aracajú e finalmente Salvador. É bom deixar claro que a viagem de volta
demorou umas dez vezes mais que a de ida, dada a ausência de embriagues, do
cansaço e da avó!
Pois
bem, ao que interessa:
O
maior comprador da Bahia, era a empresa Paes Mendonça & Cia. Ltda., e o
produto, óleo comestível, só o Presidente podia comprar.
Era
o Seo Mamede, como era conhecido.
Personalidade carismática e encantadora, tinha como tempero à sua sina, ser gago!
No
dia imediato ao meu retorno de Fortaleza, lógico, fui procura-lo para oferecer
o meu mais novo produto.
Ele era
um gênio em compras e expert em esculhambar o produto do outros, e aí mandou:
- Conheço.
Não é muito bom, mas compro 1.500 caixas se fizer a tanto!
A
grande marca da época, era o SALADA, imbatível!
Eu
fiquei mais feliz que pinto no lixo, afinal, logo na primeira visita, uma
proposta, e de uma carga completa!!!
Voltei
para o escritório, liguei para a telefonista, e pedi uma ligação interurbana
para Fortaleza. A moça, muito educada, me disse que dentro de aproximadamente
umas quatro horas, a ligação seria completada.
Na época, era o que tinha de melhor em termos de comunicação, os tais
interurbanos.
Final
da Tarde consegui falar com o diretor; ele não gostou da proposta, eu argumentei
e finalmente ele disse que no dia seguinte me daria a resposta!
Como
dormir?
Passei
o dia inteiro grudado no telefone, e nada. Até que no final da tarde chegou a
resposta: proposta aceita! pode fechar!
Corri
para o escritório de Seo Mamede onde não
o encontrei. Saíra mais cedo para ir ao médico.
Por
via das dúvidas, no dia seguinte logo cedo, passei no nosso escritório, emiti o
formulário de pedido e o Elevei já pronto para ele assinar.
Cheguei
em frente dele, e mostrei o pedido,
dizendo: Consegui aprovar a proposta do senhor; por favor, assine!
Ele me olhou e disse:
- O que
é isto?
Eu
falei:
- A
proposta que os senhor me fez, foi aprovada. Eu consegui!
Ele
falou:
-Mas
isto foi há três dias. Hoje eu não quero mais que já comprei mais barato!
Quase
choro, me lembro.
Olhei
pra ele sério e disse:
- Seo Mamede, saí daqui tal hora, pedi a
ligação, esperei...........................................e contei toda a via crucis para chegar àquele resultado,
e agora, não está certo o senhor não querer mais! Por favor, assine o pedido!
Ele,
com a cara meio séria (mas disfarçando um quase sorriso), pegou uma revista e
me disse.
-
Até-té lo-logo. Tô-tô com dor de
baaaa-rriga!
E
sumiu!
E eu
fiquei. Plantado na cadeira defronte da mesa dele, esperando sua volta.
Uma
meia hora se passou (acho), quando percebi, parece mentira, ele escondido atrás
de uma parede da sala, me olhando para
ver se eu saía.
Aí é
que eu não ia sair mesmo.
Daqui
a pouco ele entrou na sala e falou:
-Me
dê aí logo, seu chato. Vou tomar prejuízo nessa compra!
E
assinou!!!
Claro
que ele não tomou prejuízo nenhum. E eu, feliz demais por ter fechado a venda,
nem lembrei mais de quanto foi difícil!
Rubem Passos Segundo
Salvador, 19 outubro 2015
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